sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Autorregulamentação está longe de consenso


Após rejeitar ideias como a do Conselho Federal de Jornalismo, empresas consideram prós e contras de novo modelo

Publicado em 27/08/2010 | Cinthia Scheffer, enviada especial
Antes da revogação da Lei de Imprensa, no fim do ano passado, jornalistas e empresários já discutiam alternativas à legislação, editada em 1967 e marcada pela ditadura instituída no país na época. Quando derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a lei eliminou, por exemplo, penas consideradas exageradas – fazendo com que o julgamento de ações contra jornalistas passasse a ser feito com base na Constituição e nos códigos Civil e Penal. Mas também deixou lacunas a serem preenchidas, como as questões que envolvem o direito de resposta. Na semana passada, vislumbrou-se uma solução com a intenção da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) de criar um conselho de autorregulamentação da imprensa. Um projeto ainda embrionário, no entanto, e longe de um consenso.

As formas de atuação do conselho ainda estão em estudo. O que se sabe até agora é que ele será composto por sete membros e nascerá com base nos modelos já adotados em outros países. Em seu discurso de abertura do Congresso Nacional de Jornais, realizado na semana passada no Rio de Janeiro, a presidente da entidade e diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã, Judith Brito, defendeu a criação do conselho como um avanço em relação aos códigos de ética já existentes em alguns jornais do país e na própria ANJ, em um “modelo que permita debater e avaliar nossos erros, de forma transparente”.

Responsabilidade

A ANJ vê no conselho uma forma de reiterar seu compromisso com a liberdade de expressão e com a responsabilidade editorial. A proposta remete a uma inevitável comparação com o Conselho de Autorre­gula­mentação Publicitária (Conar), que naquela mesma semana completava 30 anos e é tido pelo setor como um exemplo de sucesso no combate a abusos. Mas que, por outro lado, é questionado por dezenas de entidades não-governamentais que pedem restrições mais severas em alguns segmentos. Mantido por agências, anunciantes e empresas de comunicação, o Conar nasceu no fim dos anos 70, quando o governo federal pensava em sancionar uma lei que, para o setor, seria uma espécie de censura prévia à propaganda.

A comparação com o conselho publicitário, no entanto, trouxe à tona, em discussões no próprio congresso, as dificuldades de se implementar um órgão como este – reforçadas por críticas a uma possível reedição da abortada ideia de um Conselho Federal de Jornalismo, defendida em 2004 pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

“Não é censura agora?”, questiona o professor Rogério Christofoletti, pesquisador do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) em um artigo publicado nesta semana. O grande temor na época das discussões em torno do CFJ era que ele se tornasse um instrumento de censura. O editor de Opinião de O Globo, Aluizio Maranhão, que tem assento no Conar, indicado pela ANJ, disse em sua participação no congresso que o fato de o assunto estar na agenda do setor é bastante positivo, mas disse ver “sérias dúvidas” sobre a possibilidade de a ANJ criar um conselho nos moldes do Conar. “É muito mais fácil identificar o desvio numa publicidade do que o desvio numa reportagem”, ponderou. “Qual código poderá abranger o universo de 140 jornais num país disparatado como o nosso, onde se tem caciquias políticas, crime organizado com um pé na política, Bangladesh e Nova York?”, questionou.

Maranhão disse ainda que se sentia desconfortável ao criticar uma ação “corporativista-sindical-paraestatal” como a tentativa de criação de um CFJ e, ao mesmo tempo, defender a proposta da ANJ – ressaltando que fazia uma avaliação pessoal e política. O Conselho Federal de Jornalismo tinha como objetivo, entre outros pontos, “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista”.

Riscos

O vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril e vice-presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Sidnei Basile, também fez referência ao CFJ e argumentou que o país precisa de “menos tribunais de ética e de mais práticas de uma cultura de convivência de boa fé”. “Isso [a autorregulamentação] é mais ou menos como carregar uma carga de dinamite. Dá para ser feito, mas com um enorme cuidado, porque o risco é imenso.”

O vice-presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, defendeu a ideia do conselho citando a censura ao jornal O Estado de S.Paulo como um “exemplo objetivo” de eventuais atuações do órgão. “Fernando Sarney, um dono de jornal, entrou com uma ação e censurou o jornal O Estado de S. Paulo. Todos os associados (à ANJ) têm de sustentar a liberdade de expressão. Nós temos os valores, mas não temos um rito, por isso vamos nos regulamentar”, disse ele, citando a proposta de se aplicar sanções aos jornais, não aos jornalistas. A punição máxima seria a desfiliação da entidade.

entrevista
Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ)

A autorregulamentação é o grande desafio do seu novo mandato?

A questão da autorregulamentação vem sendo discutida há muito tempo pelos associados da ANJ e tomou ainda mais força após a queda da Lei de Imprensa. Mas é apenas mais uma resposta dos jornais à sociedade, que exige a liberdade de expressão. A defesa dessa liberdade continua sendo o nosso grande mote. Também vamos trabalhar para viabilizar a migração das mídias para novas plataformas digitais em modelos saudáveis e economicamente viáveis.

Essas novas mídias foram um dos principais temas do congresso deste ano. A senhora as vê como uma ameaça ou uma oportunidade?

É tanto um desafio quanto uma oportunidade. Nós temos de saber fazer essa transição, exigindo a devida remuneração por um conteúdo cuja produção exige muitos investimentos. Os jornais de credibilidade investem em um jornalismo profundo, investigativo. Isso tudo custa muito. Sem o devido reconhecimento por este conteúdo, não é possível um trabalho profundo.

Isso passa necessariamente por conteúdo pago na internet ou telefone, por exemplo?

Certamente. O que estamos discutindo são formas práticas de viabilizar isso: quanto do conteúdo deverá ser fechado e pago e quanto deverá ser aberto. Provavelmente não há receitas prontas. Cada jornal certamente terá de pensar em sua própria estratégia. Mas também é uma discussão conjunta do que acontece no mundo, de experiências de sucesso que ajudam a avançar nessa discussão.

A ameaça à democracia foi uma temor recorrente durante os painéis do congresso. Em que medida a senhora acha que ela está ameaçada? Qual o papel dos jornais nesse cenário?

Sem dúvida, vivemos hoje uma situação de democracia no país como nunca se viu. Estamos em processo de consolidação, mas ela é bem-sucedida até o momento. Apesar disso, também temos visto experiências de censura prévia, muitas vezes derivadas de decisões judiciais. O papel da ANJ tem sido esse: defender prontamente a liberdade de expressão.

Na sua participação no congresso, o candidato José Serra fez uma dura crítica ao atual governo, acusando-o de cercear a imprensa. A senhora concorda que a imprensa foi cerceada?

Acredito que até temos alguns grupos que, em certas ocasiões, propõem medidas que poderiam ser entendidas como agressivas à mídia, tais como o Conselho Nacional de Jornalismo e outros. Mas acredito que a sociedade brasileira, por outro lado, é resistente, é complexa, e soube resistir muito bem a essas tentativas. A ANJ também tem tido um papel fundamental nesta defesa. (CS)

Fonte: Gazeta do Povo

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pagos para navegar no Orkut

A febre das redes de relacionamento fez surgir o analista de mídia social, cuja missão é verificar o desempenho de marcas e empresas na web

Publicado em 25/08/2010 - Breno Baldrati
5 horas é o tempo gasto, em média, pelo internauta brasileiro nas redes sociais todos os meses.
Segundo o estudo da consultoria Nielsen, 86% dos usuários do país frequentam esses sites
A necessidade das empresas em influenciar o debate sobre suas marcas nas redes sociais abriu espaço para o surgimento de um novo profissional: o analista de mídia social. Oriundos principalmente dos cursos de comunicação, eles atuam na web produzindo e distribuindo conteúdo, conversando com clientes e monitorando o que é dito sobre as empresas para as quais atuam.

A jornalista Frances Baras é uma que entrou nesse mercado. Ela começou a trabalhar como especialista em redes sociais há 7 meses na Magic Web, empresa curitibana que desenvolve soluções nas áreas de internet e multimídia. Entre as contas da agência, estão empresas como Trainer Assessoria Esportiva, Jasmine Alimentos e Vimo Vídeo Foto, que terceirizam o serviço de mídia social para a Magic. “O trabalho consiste em cuidar das contas dessas empresas nas redes sociais, mas também vai bem além disso. Discutimos temas que podem ser usados nos blogs dos clientes e conversamos com o pessoal da área de otimização para publicar o conteúdo de maneira a dar o máximo de visualização para a marca”, conta ela, que muitas vezes também atua como “ponte” entre consumidor e empresa. “Monitoramos o que está sendo dito e repassamos as dúvidas aos departamentos específicos. Depois, damos o feedback ao usuário.”

Outras empresas optam por “internalizar” o funcionário, como O Boticário. A fabricante de cosméticos conta com um profissional exclusivamente dedicado às redes sociais, mais um grupo de suporte de 10 pessoas para monitorar a web. “O profissional é responsável por avaliar e monitorar o movimento das redes sociais com relação à marca Boticário e aos produtos. O trabalho também visa identificar oportunidades para desenvolver ações estratégicas, estreitar relacionamento com o consumidor, difundir conteúdo de lançamentos, e ainda, obter retorno do consumidor em relação a produtos do Boticário”, diz Renato Vertemati, coordenador de Serviços de Marketing do Boticário.

Mercado

“Esse é um mercado gigantesco, com muito potencial”, diz Joyce Jane, CEO do iDigo – Núcleo de Inteligência Digital, que oferece capacitação em novas tecnologias, com foco no universo corporativo. O Brasil, segundo estudo feito pela consultoria Nielsen, é o país mais conectado em redes sociais. Mais de 85% dos usuários brasileiros passam em média cinco horas por mês nesses sites.

“A consolidação da voz do consumidor faz com que as empresas tenham de se adaptar. O consumidor eliminou o intermediário. Ele não quer mais esperar a boa vontade de um SAC. O pessoal da nova geração é cada vez mais digitalizado, eles gostam e atuam nas rede sociais, e esse movimento só vai se fortalecer”, afirma Joyce.

Para ela, quem quer entrar nesse mercado precisa entender que a atualização e a “reciclagem” profissional é constante. “É preciso se manter o tempo todo um grande estudioso dessa nova comunicação e tem de ser antenado no que está acontecendo. As redes sociais são um caminho que evolui numa rapidez absurda, e a produção de conhecimento na área, com novas plataformas e ferramentas para interagir, é enorme. Então esse profissional precisa ser humilde e reconhecer que não vai estar pronto nunca. É uma atualização constante”, diz.

Entender os mecanismos para aumentar a audiência dos clientes é a dica de Antonio Borba, diretor comercial da Magic Web. Segundo ele, as empresas buscam um analista de rede social especialmente para aumentar sua influência nas ferramentas de busca. “As empresas querem maior visibilidade no Google. O analista precisa saber espalhar o nome da marca, aumentando sua relevância.”

Ensino

Número de cursos na área cresce
A demanda das empresas por profissionais para atuar nas mídias sociais criou uma nova oferta de cursos na área. Neste semestre, a iDigo – Núcleo de Inteligência Digital, deve lançar cinco programas de especialização em redes sociais em Curitiba. No Rio de Janeiro, onde atua, a iDigo oferece cursos como “Redes sociais para os negócios”, “Redes sociais para Recursos Humanos”, “Como utilizar métricas na gestão do seu negócio” e “Estratégias de comunicação para Mobile”. A CEO da empresa, Joyce Jane, diz que a programação para Curitiba ainda não está fechada, mas o primeiro curso deve ocorrer no fim de setembro.

Também na capital, a Lemon Escola de Criatividade oferece um curso intitulado “Mídia e estratégias digitais”, com professores de várias agências de publicidade do país, como Leo Burnett e McCann.

Em São Paulo, as agências Colmeia, Cubocc e Livead, referências no mercado de comunicação digital, se juntaram à escola gaúcha Perestroika para lançar o curso “A Missa”, que começa no mês que vem. Cada módulo contará com aulas de profissionais de uma das agências. O curso será sempre aos sábados, até dezembro. “Não é um curso que se limita às redes sociais. É claro que vai discutir as ferramentas da web, mas vai além: quer discutir também as estratégias por trás do uso das redes sociais”, diz Tiago Mattos, sócio-diretor da Perestroika.

Serviço:

iDigo: http://www.idigo.com.br/
Lemon School: http://www.lemonschool.com.br/
A Missa: http://www.amissa.com.br/

Tiago Mattos, sócio-diretor da Perestroika responde algumas questões sobre mídia social

As empresas devem manter uma presença ordinária na internet – um relacionamento genuíno com sua audiência, sem ser “sanguessuga”. A opinião é do publicitário Tiago Mattos, sócio-diretor da Perestroika, uma escola de atividade criativa com cursos voltados à comunicação, com sede em Porto Alegre.
Leia a entrevista completa

Fonte: Gazeta do Povo

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sayonara, jornal? Não tão cedo

Revista Exame – Negócios Globais – 11/08/2010 – Pág. 72 a 74
 Fundado no Japão em 2003 por Ken Takeuchi, jornalista que já foi prefeito de Kamakura, estância turística próxima à capital Tóquio, o jornal online JanJan News tornou-se uma das mais recentes vítimas da crise mundial no país. No início de 2010, Takeuchi viu-se obrigado a limitar o site a um simples blog de conteúdo administrado apenas por ele próprio, de sua casa. A ideia inicial de criar um espaço aberto à publicação de notícias pelos próprios leitores teve de ser abandonada. O JanJan News contava com um escritório era Tóquio e algumas dezenas de funcionários e havia chegado a 8 000 usuários cadastrados como "cidadãos-repórteres". Sua audiência era de respeitáveis 10 milhões de visualizações por mês, mas o empreendimento nunca conseguiu estabelecer um fluxo de caixa estável. Com a queda nas receitas dos anúncios durante a crise, a empresa já não conseguia mais cobrir os custos de operação, de cerca de 1 milhão de dólares anuais, e entregou os pontos. O JanJan representava um dos poucos sites de conteúdo jornalístico exclusivo para a web num país que tem altíssimos índices de acesso à internet e é sempre associado ao que há de mais moderno em tecnologia digital. "O Japão ainda não está pronto para aceitar o surgimento de novas e múltiplas fontes de notícias, especialmente na internet", disse Ken Takeuchi em entrevista ao The New York Times.

O fracasso da empresa — pequena quando comparada a iniciativas semelhantes em outros países e minúscula em relação às principais companhias que controlam mídias tradicionais no Japão — é sintomático do cenário que caracteriza a indústria jornalística da terceira maior economia mundial. O Japão é o único do grupo de países desenvolvidos em que o jornalismo impresso ainda não enfrenta de maneira tão intensa o impacto da internet nas vendas. De acordo com

O mais recente relatório da Associação Mundial de Jornais, sediada em Paris, o Japão disponibilizou na rede pouco mais de uma centena de jornais nos últimos anos. Nos Estados Unidos, há mais de 1 700 sites de notícias. A maioria dos jornais japoneses online é tratada como um produto secundário pelas empresas que publicam os diários. Em muitos casos, somente parte do conteúdo da edição em papel vai para a internet. Por outro lado, cinco dos dez maiores jornais do mundo em circulação diária são japoneses. Mais de 10 milhões de exemplares do conservador Yomiuri Shimbun são folheados diariamente no Japão, volume mais de três vezes superior à circulação do tablóide inglês The Sun. Como nos Estados Unidos e na maior parte da Europa, o volume de diários distribuídos no Japão está diminuindo, mas num ritmo bem mais lento. Na última década, enquanto a circulação do Yomiuri Shimbun caiu 4%, a do tablóide alemão Bild caiu 28%, e a do The Sun. 12%. "As editoras de jornais aqui também estão preocupadas com a tendência de queda e a necessidade de adaptar seu modelo de negócios, mas, enquanto o mundo não bolar uma alternativa viável para ganhar dinheiro com jornalismo na internet, elas vão estender ao máximo seu foco nos impressos", diz Kaori Hayashi, professora de jornalismo na Universidade de Tóquio.

A TAXA DE 99% DE ALFABETIZAÇÃO da população japonesa ajuda a explicar o sucesso duradouro dos jornais. Mas existem outros fatores. Os conglomerados de mídia criaram sofisticados sistemas de distribuição desde o início do século 19 que cobrem toda a extensão do arquipélago. Cerca de 95% dos jornais vendidos no país chegam aos leitores por meio de assinaturas, e cada família recebe ao menos um título todos os dias. O Asahi Shimbun, segundo maior jornal do país, com circulação diária de 8 milhões de exemplares, conta com mais de 70000 pessoas trabalhando em mais de 2600 pontos de distribuição. "Os jornais são como a eletricidade ou a água, que chegam às casas automaticamente", diz Kaori. Outra característica que protege a indústria é o envelhecimento da população. A questão demográfica representa um dos mais graves desafios para a economia japonesa. Do ponto de vista desse negócio, no entanto, o fato de o país contar com uma parcela crescente de adultos e idosos, habituados a ler o formato tradicional dos periódicos, ajuda a explicar boa parte da resistência do modelo atual e das projeções de vendas por mais alguns anos.

Com uma relativa segurança proporcionada pelos hábitos da população e pelas receitas garantidas das vendas das edições empapei, as empresas japonesas de notícias pisam o terreno da internet com muito mais cautela que suas pares ocidentais. Em abril, o Nikkei, principal jornal econômico do país. começou um experimento em sua versão online. O diário proibiu até mesmo que outros sites pudessem dar um link para suas reportagens. As opiniões sobre a experiência se dividiram entre os que acham que o jornal simplesmente não entende o propósito amplo e interativo da internet e os que viram a medida como uma estratégia inteligente para manter a fidelidade dos leitores às edições impressas.

Numa entrevista recente ao Financial Times, o presidente do Asahi Shimbun, Kotaro Akiyama, disse que ainda não tem planos definidos de aumentar a presença na intemet. Mas ele afirmou também estar observando atentamente os movimentos de colegas como Rupert Murdoch. O australiano, dono do conglomerado News Corp., cobra pelo acesso a boa parte do conteúdo online do Wall Street Journal e recentemente fechou completamente o acesso ao The Times, um dos maiores jornais londrinos - agora só quem tem assinatura pode ler o site. Mas o conservadorismo dos grandes grupos da mídiajaponesa não pode durar para sempre. É conhecida a dedicação dos japoneses a seus telefones celulares e a tudo o que diz respeito a tecnologia. Um levantamento feito em 2009 pelo centro de pesquisa Shimbun Tsushin Chosakai afirma que 60% dos jovens na casa dos 20 anos e quase 50% em seus 30 anos utilizam a intemet como fonte de notícias. Além disso, de acordo com dados da Dentsu, maior agência de publicidade do Japão e uma das maiores do mundo, em 2009 os gastos com anúncios na internet no país totalizaram 8,1 bilhões de dólares, superando pela primeira vez o montante destinado aos jornais impressos. (Os sites de notícias ficaram com cerca de 3 bilhões de dólares.) Ou seja: pode não ser a hora de dizer sayonara ao papel — mas com certeza é bom dar as boas-vindas à internet com um sonoro irashaimase.

Fonte: APJ - Associação Paulista de Jornais

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Segredos dos usuários são a nova mina de ouro da web

Julia Angwin, The Wall Street Journal
04/08/2010

Escondido dentro do computador de Ashley Hayes-Beaty, um minúsculo arquivo ajuda a acumular detalhes pessoais sobre ela, e tudo isso será colocado à venda por um vigésimo de centavo.

O arquivo consiste em um único código - 4c812db292272995e5416a323e79bd37 - que secretamente a identifica como uma mulher de 26 anos, da cidade americana de Nashville, Tennessee.

O código sabe que alguns de seus filmes favoritos são "A Princesa Prometida", "Como Se Fosse a Primeira Vez" e "10 Coisas que Eu Odeio em Você". Sabe também que ela gosta da série "Sex and the City". E ainda que navega por notícias de entretenimento e gosta de testes de conhecimento geral.

"Bem, eu gostaria de pensar que ainda existe algum mistério em mim, mas aparentemente não!", disse Hayes-Beaty quando lhe contaram o que o pedacinho de código revela sobre ela. "O perfil é assustadoramente correto."

Hayes-Beaty está sendo monitorada pela Lotame Solutions Inc., empresa de Nova York que usa um software sofisticado chamado de "beacon" para capturar o que as pessoas estão digitando em um site de internet -seus comentários sobre filmes, digamos, ou seu interesse por gravidez e informações para pais. A Lotame empacota esses dados em perfis, sem identificar o nome da pessoa, para empresas que estão em busca de clientes. Os gostos de Hayes-Beaty podem ser vendidos no atacado (um pacote de apreciadores de filmes custa US$ 1 por milhar) ou customizado (jovens de 26 anos que moram no sul dos Estados Unidos e gostam de "Como Se Fosse a Primeira Vez").

"Você pode segmentar tudo até chegar a uma só pessoa", diz Eric Porres, diretor de marketing da Lotame.

Uma investigação do Wall Street Journal descobriu que um dos negócios que mais crescem na internet é o de espiar os usuários.

O WSJ realizou um estudo abrangente que avalia e analisa o vasto conjunto de cookies e outras tecnologias de vigilância que as empresas estão usando para seguir os passos dos internautas. O estudo revela que o acompanhamento dos consumidores se tornou ainda mais dominante e mais intrusivo do que todos, com exceção de algumas poucas pessoas na vanguarda da indústria, imaginam.

  • O estudo descobriu que os 50 principais sites dos EUA instalaram uma média de 64 peças de tecnologia de rastreamento nos computadores dos visitantes, sem nenhum alerta. Uma dúzia de sites instalaram mais de 100. A Wikipédia, que não tem fins lucrativos, não colocou nenhum.
  • A tecnologia de rastreamento está se tornando mais inteligente e mais intrusiva. O monitoramente costumava ser limitado principalmente aos "cookies" que registram as visitas das pessoas aos websites. Mas o WSJ encontrou novas ferramentas para escanear em tempo real o que as pessoas estão fazendo numa página de internet e, aí, determinar a localização, renda, interesses de compra e até mesmo estado de saúde. Algumas ferramentas secretamente se refazem, mesmo depois de o usuário ter tentado apagá-las.
  • Os perfis de pessoas, constantemente atualizados, são comprados e vendidos em mercados que surgiram nos últimos 18 meses e se assemelham a bolsas de valores.

As novas tecnologias estão transformando a economia da internet. No passado, os anunciantes basicamente compravam espaço publicitário em páginas específicas da internet - um anúncio de carro num site de carros. Agora, os anunciantes estão pagando um ágio para seguir as pessoas na internet, onde elas forem, com mensagens de marketing muito específicas.

Entre o usuário da internet e o anunciante, o WSJ identificou mais de cem intermediários - empresas que coletam os dados, corretores de dados e redes de anunciantes - que competem para suprir a crescente demanda por dados sobre comportamento e interesses individuais.

Os dados sobre os hábitos cinematográficos de Hayes-Beaty, por exemplo, estão sendo oferecidos a anunciantes na BlueKai Inc., uma das novas bolsas de dados.

"A maré está mudando em relação à forma como o setor funciona", diz Omar Tawakol, diretor-presidente da BlueKai. "Os anunciantes querem comprar acesso às pessoas, não páginas na internet."

O WSJ examinou os 50 sites mais populares dos EUA, que correspondem a 40% das páginas de internet que são vistas pelos americanos. (O Journal também testou seu próprio site, o WSJ.com.) Aí, analisou os arquivos de acompanhamento e programas que esses sites baixaram em um computador de teste.

Juntos, esses 50 sites colocaram 3.180 arquivos para coletar dados nos computadores de teste do WSJ. Quase um terço deles eram inócuos, usados para lembrar a senha de um site favorito ou identificar os artigos mais populares.

Mas mais de dois terços - 2.224 - foram instalados por 131 empresas, muitas das quais estão no negócio de seguir os usuários da internet e criar um rico banco de dados com perfis de consumidores que podem ser vendidos.

O principal local para tal tecnologia, descobriu o WSJ, é o Dictionary.com, da IAC/InterActive Corp. Uma visita ao dicionário on-line resultou no download de 234 arquivos ou programas no computador de teste de WSJ, sendo que 223 deles vieram de empresas que monitoram os usuários da internet.

A informação que as empresas coletam é anônima, no sentido de que os usuários de internet são identificados por um número designado ao seu computador, não pelo nome específico da pessoa. A Lotame, por exemplo, afirma que não sabe o nome de usuários como Hayes-Beaty - somente seus comportamentos e atributos, identificados por um código numérico. As pessoas que não querem ter seus passos seguidos podem ser removidas do sistema Lotame.

E o setor alega que os dados são usados sem prejudicar ninguém. David Moore, presidente do conselho da 24/7 RealMedia Inc., uma rede de anúncios da WPP PLC, informa que o rastreamento dá aos usuários da internet uma propaganda melhor.

"Quando um anúncio é propriamente focado, ele deixa de ser um anúncio, ele se torna uma informação importante", diz.

O monitoramento não é coisa nova. Mas a tecnologia está se tornando tão poderosa e onipresente que mesmo alguns dos maiores sites dos EUA afirmaram que não tinham conhecimento, até que foram informados pelo WSJ, de que estavam instalando arquivos intrusivos nos computadores dos visitantes.

O WSJ descobriu que o popular portal de internet da Microsoft, o MSN.com, plantou um arquivo recheado de dados: ele tinha a previsão da idade do internauta, código postal e sexo, além de um código com a estimativa de renda, estado civil, presença de crianças na casa e propriedade de imóveis, de acordo com a empresa de coleta de dados que criou o arquivo, a Targus Information Corp.

Tanto a Targus quando a Microsoft afirmaram que não sabiam como o arquivo tinha ido parar no MSN.com, e acrescentaram que a ferramenta não continha informações "pessoais identificáveis".

O rastreamento é feito por minúsculos arquivos e programas chamados de "cookies", "Flash cookies"e "beacons". Eles são colocados em um computador quando o usário visita o site. Os tribunais dos EUA decidiram que é legal usar o tipo mais simples, o cookie, assim como é legal uma pessoa que usa um telefone permitir que um amigo escute uma conversa. Os tribunais ainda não decidiram sobre os programas mais complexos.

O monitoramento mais intrusivo vem do que o setor chama de arquivo de acompanhamento de "terceiros". Eles funcionam assim: na primeira vez em que um site é visitado, ele instala um arquivo de acompanhamento, que atribui ao computador um número de identificação único. Mais tarde, quando o usuário visita um site ligado à mesma empresa de acompanhamento, ele pode tomar nota de onde o usuário esteve antes e onde está agora. Desta forma, a empresa pode construir um perfil robusto.

Informações sobre os pensamentos das pessoas e suas ações a cada momento, reveladas por sua atividade on-line, podem mudar de mãos rapidamente. Alguns segundos depois de uma visita ao eBay.com ou ao Expedia.com, é provável que informações detalhadas sobre a atividade do internauta sejam leiloadas na bolsa de dados gerida pela BlueKai.

Porta-vozes da eBay Inc. e da Expedia Inc. informam que os perfis são vendidos anonimamente e que as pessoas não são identificadas como visitantes dos seus sites. A BlueKai informa que seu próprio site dá aos consumidores uma maneira fácil de ver o que ele monitora sobre eles.

Os arquivos de rastreamento chegam aos websites, e são baixados para um computador, de várias maneiras. Muitas vezes, as empresas simplesmente pagam aos sites para distribuir seus arquivos de monitoramento.

Mas as empresas de rastreamento às vezes escondem seus arquivos dentro de software gratuito oferecido aos websites, ou os escondem dentro de outros arquivos de acompanhamento ou anúncios. Quando isso acontece, os sites não estão sempre cientes de que estão instalando os arquivos nos computadores dos visitantes.

O acompanhamento do consumidor é a base de uma economia de publicidade on-line que movimentou US$ 23 bilhões nos EUA no ano passado. A atividade de monitoramento está com crescimento explosivo. Pesquisadores dos AT&T Labs e do Instituto Politécnico Worcester encontraram no fim do ano passado tecnologia de rastreamento em 80% dos 1.000 sites mais populares, em comparação com 40% desses sites em 2005.

Espionar os usuários, o negócio da hora na rede

Julia Angwin, The Wall Street Journal
04/08/2010

Estudo revela que o acompanhamento dos consumidores se tornou mais dominante e invasivo do que todos imaginam

Uma investigação do Wall Street Journal descobriu que um dos negócios que mais crescem na internet é o de espiar os usuários.

O WSJ realizou um estudo abrangente que avalia e analisa o vasto conjunto de "cookies" e outras tecnologias de vigilância que as empresas estão usando para seguir os passos dos internautas. Ele revela que o acompanhamento dos consumidores se tornou mais dominante e invasivo do que todos imaginam - com exceção de algumas poucas pessoas na vanguarda da indústria.

O estudo descobriu que os 50 principais sites dos EUA instalaram uma média de 64 peças de tecnologia de rastreamento nos computadores dos visitantes, sem nenhum alerta. Uma dúzia de sites instalaram mais de cem dispositivos.

A tecnologia de rastreamento está se tornando mais inteligente e mais invasiva. O monitoramento costumava ser limitado principalmente aos "cookies " que registram as visitas das pessoas aos websites. Mas o WSJ encontrou novas ferramentas para escanear em tempo real o que as pessoas estão fazendo numa página da internet e, então, determinar a localização, renda, interesses de compra e até o estado de saúde. Os perfis das pessoas, constantemente atualizados, são comprados e vendidos em mercados que surgiram nos últimos 18 meses e se assemelham a bolsas de valores.

Fonte: Valor Online