quarta-feira, 21 de julho de 2010

Uma esperança para o jornal em papel

Fernando Martins
Publicado em 21/07/2010 | fernandor@gazetadopovo.com.br

Caro leitor, saiba que muitos analistas dizem que você é um espécime em processo acelerado de extinção, caso esteja lendo este artigo na versão impressa da Gazeta do Povo. Para muitos, em pouco tempo ler textos no papel será tão antiquado como redigir cartas em máquina de escrever – ainda que essa modernidade não traga apenas benefícios, como pode aparentar.

Se o fim da informação em papel de fato se concretizar, com a migração integral do conteúdo para a internet, é possível que o mundo perca uma importante forma de perceber a realidade, ainda que as tecnologias digitais estejam abrindo outras modalidades de entrar em contato com o mundo ao nosso redor.

Ler é, afinal, um jeito de conhecer algo que não se sabia anteriormente ou de se lembrar de algo esquecido. E a plataforma em que se lê – um jornal, um livro, a tela de um computador ou o monitor de um celular – determina, ainda que não percebamos, a forma como assimilamos (ou não) os dados disponíveis. O fim do papel seria, portanto, a extinção de uma modalidade de percepção.

Um jornal, seja ele em papel ou na internet, é um conjunto hierarquizado de informações. Ambos têm uma capa que resume as notícias que os jornalistas daquele veículo consideram mais importantes.

Mas as semelhanças entre o pa­­pel e o on-line ficam por aí. O jornal impresso tem características altamente interessantes que parecem estar esquecidas diante de nosso fascínio pelas novidades trazidas pela internet: a rapidez da notícia, a interatividade e a possibilidade de reunir múltiplas mí­­dias em uma única (texto escrito, som e imagens em movimento).

Quem lê o jornal impresso não costuma ler apenas na capa – ao contrário do que muitos fazem na versão eletrônica. Vai virando páginas e entrando em contato, ainda que apenas pela leitura dos títulos das reportagens, com todas as notícias que os jornalistas daquele veículo consideraram importantes, sejam elas de seu interesse ou não.

Ou seja: o leitor do papel tende a estar mais informado do que o internauta, que não costuma clicar em todas as editorias on-line disponíveis. Em outras palavras, na web a pessoa normalmente procura apenas aquilo que a interessa. No papel, o leitor é forçado a saber mais.

A hierarquização das informações no jornal impresso também é mais intensa. Quem olha a versão em papel sabe de imediato quais são as notícias mais importantes apenas pela sua posição (no alto, no meio ou no pé das páginas). Também percebe que um texto é maior que outro – ou seja, que um profissional decidiu dar mais destaque a ele por achá-lo mais importante. Essa característica fica quase que completamente perdida na internet, pois a pessoa precisa clicar nos títulos das notícias para só então perceber o quão extensa (e relevante) é uma notícia.

Uma contracorrente de pensadores acredita que são justamente essas características que farão o jornal impresso sobreviver. De nada adianta haver quantidade de informação se ela não está altamente hierarquizada. Ou seja: precisamos de pessoas que interpretem dados, os organizem para nós e mostrem quais são os mais importantes. E, ao menos no campo das notícias, o papel ainda é a melhor forma de fazer isso.

Fonte: Gazeta do Povo

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