terça-feira, 5 de maio de 2009

"Não é possível dar google em tudo"

Por Sylvia Colombo em 5/5/2009

Vida de escritor, de Gay Talese, 509 pp.,
tradução de Donaldson M. Garschagen, Companhia das Letras,
São Paulo, 2009; R$ 59; reproduzido da
Folha de S.Paulo, 2/5/2009

Gay Talese está otimista. Apesar das ameaças ao jornalismo impresso, por conta da expansão do alcance da internet e da perspectiva dos efeitos da crise internacional, o veterano autor, 77, acha que periódicos e revistas têm sobrevivência garantida caso continuem apostando em boas histórias. "Sei que falo como um velho da profissão", disse, em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, onde vive. "Mas o mundo está cheio de coisas interessantes. Basta ser criativo para encontrá-las e disseminá-las de modo original."
Para Talese, porém, vive-se um momento de incerteza por conta da fragilidade de alguns veículos. E destaca o exemplo do New York Times, que se encontra em uma situação econômica alarmante. "Vários erros foram cometidos ali. O principal deles foi terem aberto seu conteúdo on-line."
Em sua opinião, o equívoco estaria em tornar gratuito algo que custa caro, a informação. "Há mentiras em todos os lados, na política, no esporte, na cultura. Buscar a verdade é a essência do jornalismo. Só que essa busca custa caro. É preciso pagar o repórter, suas contas, suas viagens, seus telefonemas e até a imensa quantidade de tempo que se perde atrás de pistas faltas."
Se isso não for feito, conclui, não haverá diferença entre uma informação obtida pelo Guardian ou por um blog anônimo. "É preciso cobrar pelo que se publica. Porque se trata de uma tentativa de encontrar a verdade, uma verdade que é necessária para a sociedade e que tem um preço." E arremata: "Não é possível dar um google em tudo e achar que assim se está informado. A internet está cheia de lixo".
Qual seria a saída, então, para evitar a queda da circulação de jornais e o desinteresse de anunciantes tanto nos meios impressos quanto nos eletrônicos? "Não sei", admite. "A economia e os governos têm de dar conta disso. Não sou pessimista. Sei que é um momento trágico, mas o que fazemos é muito importante e não acredito que deixará de ser."

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